Floração
A principal safra apícola do ano no centro-oeste acontece entre os meses de julho e outubro. Com a persistência da seca e perspectiva de morrer de sede, muitas espécies de plantas melíferas soltam seus botões de flores em busca de gerar sementes e garantir sua descendência. Assim, na medida em que a seca avança, com umidade abaixo de 30%, as abelhas passam a buscar não somente o néctar como fonte de açúcar, mas também como fonte de água na abundante safra de flores que desabrocham em todo cerrado do centro-oeste, assim como no sudeste tropical e em parte da região norte no mesmo período.
Floradas
Como é nas flores que estão a maior parte dos nectários – as fontes do néctar, que, com a ação enzimática da saliva das abelhas e a desidratação controlada, vai se transformar em mel na colméia – as características dos méis vão variar conforme as qualidades do néctar de cada espécie de planta cujas flores são visitadas pelas abelhas. As espécies de plantas florescem cada a sua vez. Alguns são escuros, cor de cobre ou pretos, e mais amargos, como o mel de sucupira e de aroeira, saborosos e ricos, com alto teor de minerais; outros são claros, amarelo como o de assa peixe, âmbar claro como o de angico, ou até branco d’água como o de cipó-uva, méis em geral mais doces e de paladar mais delicado. Há ainda muitas outras espécies melíferas que florescem neste período de seca entre o inverno e a primavera do centro-oeste. Todos são especiais e se há algo em comum é que, embora tenham viscosidade diferentes, todos tendem a amadurecer com um baixo teor de umidade na colméia, por volta de 19%, durante o período da seca.
Preparação para a grande safra apícola
A safra de néctar que ocorre no centro-oeste e parte de outras regiões do Brasil durante a seca no inverno e na primavera resulta naturalmente num grande acúmulo de mel na colméias, com vistas a armazenar o precioso alimento como reserva para o período de escassez que seguirá, aqui correspondente ao período chuvoso. Mas como em toda agricultura, a apicultura moderna também desenvolveu métodos para aumentar as chances de sucesso e o tamanho das colheitas. Como a quantidade de néctar coletado é tão maior quanto maior forem os enxames, quanto maior for a vitalidade da rainha e quanto mais favos livres e limpos as colméias puderem preparar a tempo durante o período, então o apicultor busca melhorar a condição das colméias com base em três manejos preparatórios durante os meses de maio e de junho: uma alimentação estimulante para o crescimento dos enxames e, quando necessário, a troca das rainhas e dos favos. Os manejos anteriores à safra visam a máxima produtividade das colméias.
Colheita de méis monoflorais
Para colher um mel de uma florada específica é preciso conhecimento e manejo adequados das colméias no apiário. O apicultor precisa preparar quadros novos onde as abelhas armazenarão o mel colhido. Como as abelhas da espécie apis mellifera tem o comportamento de priorizar uma floração específica favorita, pela qualidade do néctar oferecido, quando a florada é grande, rica e forte o bastante para alimentá-las, é possível esperar as abelhas encherem os novos quadros com uma mesma espécie de mel para então recolher as melgueiras no momento oportuno. Dependendo do tamanho e da duração da florada, assim como da variedade de floradas cujo mel o apicultor pretende colher, esse trabalho pode ser bastante técnico e exigente.
Mel silvestre
Mel silvestre é o nome que se dá aos méis multiflorais produzidos da coleta de néctar das flores de diferentes espécies que ocorrem em uma determinada região dentro do raio de pelo menos um quilômetro e meio de ação das abelhas de um apiário sobre seu pasto apícola. Essas plantas podem ser árvores, arbustos ou ervas e, quando a diversidade de espécies é grande, proporcionam méis de sabores únicos e coloridos, como um buquê de essências florais. O mel silvestre é uma verdadeira impressão digital do terroir em que ele é colhido.
Enxameação
Com o aumento da oferta de alimento, os enxames que até o início do inverno estavam com uma população reduzida ao mínimo, volta a crescer com o aumento da ritmo de postura de ovos da rainha, estimulada pelo acréscimo no influxo de alimento. O crescimento da população e o consequente esgotamento do espaço, por sua vez, desperta outro instinto na vida das colméias – sinalizado também pela chegada do calor (marcado pela breve chuva do caju – que é enxamear, ou seja, desprender um grupo de abelhas do enxame em busca de uma nova casa, um espaço protegido onde possam nidificar em iniciar um novo “reinado”.
Um dos trabalhos importantes para a apicultura moderna nesse período é o controle da enxameação, uma vez que ela implica numa diminuição da população das colméias e, portanto, na intensidade da coleta de néctar no apiário. Ampliar o espaço disponível para as abelhas e para novos favos de cria na colméia adicionando sobreninhos é o principal meio de aliviar o impulso de enxameação.
O fim da safra
Com a chegada da primeira invernada de chuvas intensas que caracteriza o fim da seca, em outubro ou início de novembro, o néctar das flores que estão abertas é lavado e as abelhas são obrigadas a se recolher no abrigo de suas casas, dependendo principalmente do alimento armazenado na primavera para sobreviver pelos próximos meses, até a pequena safra do outono na região.